domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pão

  Acordei depois daquele momento em que o sonho está perfeito. Você está feliz e tudo parece dar certo no sonho. É estranho a sensação que se tem quando você se depara com duas realidades completamente diferentes em menos de cinco segundos. Não era uma sensação que eu estava acostumado, mas eu conhecia. Não sonhava tinha um pouco mais de um mês.
  Assim que abri os olhos, sabia que tinha que ir comprar pão. Eu não tinha comido antes de dormir exatamente por esse motivo. Não tinha pão e eu precisava ter comido. Nada mais justo do que acordar com fome, sabendo que tinha que sair de casa. O tempo era quente, abafado daquele jeito que ninguém gosta. Você começa a suar mesmo antes de sair do prédio.
  Me arrumei sem demora para descer. Peguei meus óculos escuros, botei meu chinelo e fui para a padaria. Meu elevador desce e para no sétimo andar. Entra nele, um homem de uns quarenta e poucos anos. Acho que nunca o vi. Não presto muita atenção nas pessoas do meu prédio. Só tem gente esquisita, ninguém conversa, não existe educação. Portanto, eu não existo nesse prédio. Mas, isso é um outro assunto. Voltando para o elevador, uma coisa que me chama a atenção é que durante vinte segundos, não sei, você divide um espaço pequeno com outras pessoas que entram e muitas delas não dizem um "oi", um "bom dia", e eu não me importo se não quer falar, as vezes eu não quero também. Muitas vezes é a primeira pessoa que você encontra no dia, no meu caso foi assim. Pra variar, não houve som emitido dentro do elevador.
  Saindo do meu prédio, sabia que precisava comprar pão. Enquanto ia para a padaria, começa a chover. É óbvio e eu nunca aprendo... Mas eu gosto da chuva, não ligo de ficar molhado. Tirando o cabelo que sempre fica ridículo. Chego, pego o pão que eu estou para comer desde ontem, mas sendo de hoje. Vou pro caixa. "Bom dia". Gosto de falar com o vazio às vezes. Me sinto bem enquanto existe um ser na minha frente na caixa registradora. É... dessa vez tive o azar de não falar com uma pessoa educada. Mas eu sou bom em marcar o rosto das pessoas. Na próxima vez que eu tiver que comprar pão, não será com ela. é engraçado esse momento em que você compra algo de alguém através de uma pessoa que registra o produto que você compra sem nenhum diálogo e de uma forma tão natural.
  Ao sair da padaria, lembro que estava chovendo. E a chuva não estava mais boa. chovia muito mais e eu não estava mais de bom humor. Na verdade nunca estive desde que eu voltei a sonhar, hoje por sinal. Não gosto de sonhar. Não mais. Os pingos eram grandes e faziam aquelas manchas molhadas na camisa que você consegue diferenciar das outras dos pingos normais. E eu não queria ficar molhado daquele jeito. Corri de volta para casa, mesmo pisando em duas poças e ter escutado meu estômago roncar umas três vezes.
  O saco de pão estava quente e eu estava no elevador, novamente dividindo com outra pessoa. Minha roupa toda molhada, meu cabelo ridículo. Vendo no espelho do elevador então, era pior ainda. Os espelhos de elevadores costumam me deixar mais feio. Meus pés estavam sujos, minha canela também. Minha barriga doía muito de fome já. "Pegou uma chuva heim?".


Autor: Lucas Braga

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