terça-feira, 31 de maio de 2011

Meados do outono

  Uma solidão no parque veio fazer companhia a pobre criança que se divertia assistindo o cair das folhas. Era outono. Seus pés congelavam pois não tinha meias, assim como não tinha dignidade. Sentava com as pernas cruzadas no banco de madeira velha para aquecer as solas dos pés.
  Já faziam horas que as folhas amarelas caíam e já se amontoavam ao pé da árvore. Sua vontade era de sair correndo e espalhar aquele monte. O frio, junto com o cansaço, não deixava. A fome já era esquecida, não se tinha mais conhecimento da sensação de querer comer. Era quase um Nada. O que diferenciava do nada era seu coração. Era pobre mas, por dentro, era rico de sentimentos, idéias e sonhos.
  O Sol já não esquentava mais no outono. A briga contra o frio era constante, porém, sem resultados positivos. Ao chegar da noite, se acomodava na pilha de folhas mortas, ao pé da árvore, para se aquecer. Agarrava as pernas, dormia em forma de concha e esperava aquela sensação de frio intenso passar. Mas não passava. Ela só se deu conta de que não sentia mais frio quando não acordou mais.


Autor: Lucas Braga

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Eu te amo"

  Só me dou conta de que estou acordado quando me belisco. Acordar ao seu lado para mim, é um sonho. Não há a mínima vontade de acordar e muito menos de procurar saber se aquilo é real ou não. Prefiro viver dessa fantasia para o resto da minha vida.
  Você ainda dorme, com um sorriso calmo no rosto. Eu te observo calmamente e apaixonadamente até não conseguir mais resistir e lhe beijar de forma suave a face. Não era para você acordar. Só queria matar essa minha sede. Seu cabelo bagunçado da noite te ontem com o curto sono me faz prestar mais atenção em você. Será que eu realmente estou acordado? O cheiro de sua pele se mistura com o perfume de seus cabelos e me dá uma angústia interminável de não poder lhe agarrar sem te largar mais. Você está dormindo, e isso me provoca mais ainda.
  Finalmente, você acorda. Com um olhar meio sonolento ainda, me observa e, em seguida, fecha os olhos ao mesmo tempo que abre um sorriso. Se espreguiça por inteira e vira de costas para mim. Suas costas nuas me incendeiam. Você vira o rosto para mim sem se mexer e sorri de uma forma maliciosa, que me agita por dentro.
Não consigo me controlar. Te ataco com mordidas carinhosas e beijos quentes pelas costas, nuca, braços.
  Eu não posso estar acordado. Mas, felizmente estou. As palavras que saem da sua boca diretamente no meu ouvido são densas demais para ser um sonho. Só precisei de um sussurro de três palavras com uma certa entonação: "Eu te amo".


Autor: Lucas Braga

Carta digitada

  Essa carta foi digitada com a intenção de não ter validade, pois um dia, o papel envelhece e tudo que está escrito, desaparece. Não fique brava comigo. A internet tem suas qualidades, apesar de não ser tão romântica como uma carta entregue à você com seu perfume preferido e um buquê de rosas vermelhas.
  Nas noites mais frias, olho pela janela com a intenção de procurar seu olhar em alguma estrela. A comparação é meio difícil de se aceitar, pois as estrelas não me deixam apaixonado como seus olhos. Mas eu finjo que elas são boas o suficiente para serem comparadas. Falando em frio, eu precisava de um abraço seu agora. Meu corpo está gelado e não sinto direito a ponta dos meus dedos. O ar, gelado, chega a machucar meus pulmões. É difícil falar de você sem suspirar, sem ter uma respiração mais forte. Mas, por você, eu agüento essa dor momentânea.
  Mesmo te dizendo que você é linda e que seu sorriso me deixa sem ar, eu quero compartilhar isso com o mundo. A minha felicidade é tão grande que eu me sentiria egoísta de tê-la só para mim. Imagino agora, seu sorriso. Suas covinhas aparecendo e suas maçãs do rosto se levantando com delicadeza. Me apaixono por você só de imaginar.
  Já amanheceu aqui, e o Sol começou a me aquecer (apesar de eu preferir o seu abraço). Vou ficar na vontade de ter um beijo de bom dia, mas eu te entendo. Obrigado por, supostamente, me ler.


Autor: Lucas Braga

Conclusões

  Parece um vício, mas sempre procuro entender as pessoas. Analiso-as de corpo e alma e procuro entendê-las melhor. Não só as pessoas, mas os animais também. O comportamento de ambos me deixa fascinado, com vontade de aprender mais, de querer entender os motivos de certas ações.
  Um dia, me questionei sobre os sentimentos de uma pessoa. Ela era fria, não se abria para ninguém, então não ousei quebrar essa barreira impermeável que me separava do "eu" verdadeiro dela. Apenas a observei. Eu sei que ela se sentia incomodada, é normal. Não procurei fazer isso escondido, queria atordoar ela até meu último minuto possível e consegui. Depois de algumas semanas, aquela barreira de difícil penetração se rompeu e eu tive, pela primeira vez, a oportunidade de conhecê-la melhor. Estava enganado sobre quem eu achava que ela era.
  Às vezes, acreditamos por acreditar. Apesar de termos confiança total em nós mesmos (na maioria dos casos),  precisamos tentar procurar novas formas de crença.
  Já com os animais, é difícil manter um diálogo, se é que você me entende. Não vou sair latindo para um cachorro e nem dar um banho com minha língua num gato ( até porque minha língua não é áspera). O silêncio me conforta e me faz pensar melhor. Já para alguns... Falar demais acaba atrapalhando na hora de pensar.


Autor: Lucas Braga

Manias, dúvidas e ...

  Já cansei dessa mania minha de deixar para escrever depois. Sempre esqueço da maldita idéia. E, ainda por cima, sempre me falo: "Não vou esquecer, não preciso anotar". Para variar, eu esqueço. Fico imaginando, se eu esquecesse de você da mesma forma que esqueço de minhas idéias e palavras. Daria certo? Acho que não.
  Já cansei de chegar à essa conclusão e não tomar partido. Algumas vezes até anoto em um pedaço de papel (que, normalmente, se perde na minha vasta bagunça). Quando minha memória está de bom humor, me faz lembrar. Mas não é o que acontece normalmente. Preciso guardar um pouco dela para mais tarde. Vai que eu esqueço de você, esqueço de te amar...
  Já cansei de chegar à essas conclusões, não tomar partido e continuar reclamando disso tudo. O que eu sou? Retardado? Talvez. Acho que ocupo muito minha mente com você. Engraçado é que você me inspira, então, existe algum erro nisso tudo. Não posso tirar essa dúvida com ninguém, porque nem eu sei exatamente qual dúvida é essa.
  Eu até terminaria de discutir sobre essa questão toda de memória e mania de escrever, mas eu esqueci. 


Autor: Lucas Braga

Haja motivo

  Cansado de brigar, mandou-a se calar. Ela, teve que engolir suas últimas palavras ásperas que rasgaram sua garganta por dentro. Foi uma dor controlável até o momento em que ele virou de costas e foi embora. Se sentiu culpado em não ter se despedido nem cuspido um adeus, mas não conseguiu terminar seu raciocínio devido à um abraço por trás dela. Nesse momento, não sentia mais seus pés sobre o chão, apenas o calor de sua amada.
  Não quis mais voltar para a realidade. Aquele momento, talvez fictício, era necessário. Os dois sabiam muito bem disso. Houve um pedido de desculpas silencioso entre os dois. A raiva não borbulhava mais no sangue.
  Ele se virou, ela o beijou enquanto segurava seu rosto com suas mãos molhadas de lágrimas antigas. Por fim, um sorriso de ambos os lados transformando aquele momento diário de bobagem sem motivo em felicidade.


Autor: Lucas Braga

Me explique

  Já se passaram meia hora e ela continua parada. Ninguém interrompe para não quebrar essa harmonia silenciosa que se formou aqui. Ela olha ao redor com um olhar lento e controlado. O ato de piscar é esquecido, às vezes, por ela. Não se pronuncia.
  De vez em quando, se espreguiça e provoca preguiça em quem a observa. É uma energia sonífera que passa gradualmente. Dá uma levantada, o que raramente acontece, e logo em seguida, deita. A vida parece bastante difícil. Os bocejos são a maior forma de gastar energia.
  O pior é que cansa só de olhar. Acabo dormindo antes dela e, quando acordo, lá está ela me observando. Vai entender...

Caligrafia antiga

  A dor no peito que ela sentiu ao encontrar em uma de suas gavetas da escrivaninha era enorme. Entre dois livros recentemente lidos se encontrava uma folha de caderno meio amassada e empoeirada. Pegou com cuidado, suas mãos já começavam a tremer e a poeira que foi subindo incomodou seu nariz por um instante. Ela já sabia do que se tratava.
  Pela antiga caligrafia que estava gravada no papel, já sabia de quem era e isso a deixava mais nervosa ainda. Não hesitou em continuar. Muito pelo contrário, queria ter certeza de que o que ia ler era o que realmente achava. E não se decepcionou. Era exatamente aquilo. O coração acelerou e a cada palavra que lia, seu pensamento ia longe, atrás das lembranças que perdeu. A vida era diferente.
  Poderia ter lido mais uma vez mas o tempo não lhe permitia. As lágrimas já escorriam e a chance de molhar aquele velho pedaço de papel era grande. Se desfez do mesmo e guardou-o com segurança em outro lugar. Preferiu esquecer aquelas lembranças que a tinham feito derramar lágrimas de tristeza. Nunca mais achou a suposta carta e muito menos a felicidade.


Autor: Lucas Braga

domingo, 29 de maio de 2011

Não lembro como cheguei aqui

  Não lembro como cheguei aqui. Não lembro mesmo. O barulho do mar se misturou com o cheiro salgado da água. Pareço estar na praia. Apesar de ser noite ainda e a Lua me receber com carinho, me segurei um pouco antes de aceitar essas condições desfavoráveis que foram proporcionadas à mim.
  Retirei os sapatos e me misturei com a areia gelada. Seus grãos se agarravam entre meus dedos do pé e subiam pelas minhas canelas a cada passada que dava naquele infinito arenoso. Existia uma certa força que me atraía para dentro d'água e que me afogava com pensamentos inquietos. Acho que essa certa inquietação em minha mente me fez delirar por demais e acabou me fazendo tropeçar. Meu rosto estava à centímetros da areia e eu só conseguia escutar o barulho do mar. A visão estava turva por causa da maresia e não me pergunte como. Adormeci.
  Acordei molhado de suor em minha cama. A luz do Sol batendo em minha pálpebras convidava-as a abrir. Senti um alívio imenso por não ter passado o frio que achei ter passado. Será que passei? Será que estive dormindo esse tempo todo? Me perguntarei novamente quando me deitar à noite para dormir. E aí sim poderei me responder essa inquietante pergunta: Sonhei?


Autor: Lucas Braga

Sonhos diários

  Esses dias passei pela sua casa e lembrei de você. Ainda sinto sua falta, não como sentia diariamente, mas ainda resta um pouco de você em mim. Pensei em bater à sua porta, mas um último suspiro me impediu de cometer esse erro. Antes de pensar duas vezes, ocupei minha cabeça com minhas obrigações e andei em passo ligeiro para longe dali.
  Minha respiração voltou ao que era mas o coração ficou com aquela pontada que permaneceu durante meu dia. Não deveria ter pensado em você mais de uma vez.
  Quando chego em casa, olho o relógio, são 16:16 hrs. Sabe o que dizem quando encontramos o horário assim né? Alguém está pensando em você. Não pude deixar de imaginar você pensando em mim enquanto me perdi no tempo, e ao me reencontrar na sala de casa, já tinham se passado dois minutos e meio. Fui esfriar a cabeça num banho gelado. Me vesti com lentidão e perdi a fome nesse tempo. Me escondi debaixo do cobertor e fechei os olhos. Sonhei com você.


Autor: Lucas Braga

A necessidade de algo mais acabou

  A chuva lá fora só tende a apertar. Meus dedos em suas costas também. O seu pedido por uma massagem foi aceito e eu não tenho o que reclamar. E, para falar a verdade, eu fico sem jeito de te fazer uma massagem calorosa em dias de frio.
  Apesar do frio, você está sem blusa. Sua posição de bruços com o rosto em repouso sobre suas mãos geladas me dão a impressão de que o que faço está te confortando. Seu sorriso inconsciente também é prova do meu trabalho bem sucedido. Mesmo com suas costas em chamas, meus dedos ainda estão gélidos e, ao lhe tocarem, provocam arrepios contínuos pelas costas que correm por toda a espinha. Você ri. Nós rimos. Certos momentos em que pressiono com um pouco mais de força, escuto alguns gemidos bem leves de prazer que me evocam uma sensação prazerosa.
  A chuva já não aperta mais, mas está forte e seus pingos batem com ferocidade no vidro embaçado pelo calor que seu corpo emanou. Isso me dá uma asfixia momentânea, mas eu gosto. Gosto desses momentos em que a cautela é necessária.
  Depois de quinze minutos de um trabalho apaixonante, eu te viro. O arrepio ainda permanece em seu corpo, mas você parece não ligar mais. Me puxa pela nuca e me abraça com amor e com a finalidade de retirar as últimas partículas de gelidão de seu corpo. A chuva pára.


Autor: Lucas Braga